Após a segunda-feira marcada pelo foco no escândalo envolvendo L. Cook, economista-chefe do Fed, e pela reação ao enfraquecimento do tema das guerras comerciais, a atenção do mercado agora se volta para dados críticos do mercado de trabalho dos EUA — números que podem alterar significativamente a discussão sobre a necessidade de um corte de juros pelo Fed.

Comecemos pelo relatório JOLTS de vagas de emprego de julho, divulgado na quarta-feira. Os dados mostraram uma queda significativa em relação às expectativas do mercado (7,181 milhões ante 7,380 milhões previstos) e também em relação ao número anterior, revisado para baixo para 7,357 milhões.

Esses números evidenciam que, em julho, o mercado de trabalho americano começou a desacelerar de forma generalizada, tendência já sinalizada por relatórios anteriores do ADP e do Departamento do Trabalho. Agora, os mercados aguardam o relatório de emprego do ADP para o setor privado, divulgado hoje. Segundo o consenso de mercado, a economia dos EUA teria criado 73 mil novos empregos privados em julho, contra 104 mil no mês anterior. Se o dado real ficar dentro do esperado, ou ligeiramente acima, mas ainda abaixo de 100 mil, será uma forte confirmação do esfriamento do mercado de trabalho. Paradoxalmente, esse cenário negativo seria interpretado como uma boa notícia, pois abriria espaço para um corte de juros de 0,25% pelo Fed já na reunião de 17 de setembro, seguindo o clássico princípio de que "notícia ruim é notícia boa".

Embora o relatório do ADP não capture toda a amplitude do mercado de trabalho americano, ele ainda pode impulsionar a demanda por ações, na expectativa dos dados oficiais de folhas de pagamento (non-farm payrolls), que serão divulgados pelo Departamento do Trabalho na sexta-feira.

Como os mercados poderiam reagir a dados fracos do mercado de trabalho dos EUA?

Como já mencionei, a perspectiva de um corte de juros pelo Fed é atualmente a principal preocupação dos mercados. Trata-se de um fator crucial que pode alterar a visão geral. Um corte de juros resultaria em rendimentos mais baixos para depósitos e títulos, funcionando como um catalisador para a fraqueza do dólar no mercado Forex. No entanto, qualquer queda do dólar provavelmente será limitada, já que muitas das moedas que compõem a cesta do dólar também enfrentam grandes desafios econômicos, especialmente em economias ocidentais como Reino Unido, União Europeia, Austrália e mercados similares.

Um dólar mais fraco pode apoiar os preços do ouro, mas o efeito tende a ser marginal, pois a flexibilização do Fed já está, em grande parte, precificada. Além disso, há poucas expectativas de que a redução de riscos geopolíticos — como uma possível distensão na Ucrânia — gere uma nova demanda significativa por ouro.

No mercado de criptomoedas, especialmente para ativos pareados com o dólar, pode haver algum suporte de curto prazo após um corte de juros. Ainda assim, o efeito tende a ser passageiro, já que ativos que geram rendimento, como ações pagadoras de dividendos, permanecem mais atraentes nesse cenário.

A avaliação geral do ambiente de mercado é moderadamente positiva.

Previsão para o dia:

#USDX

O índice do dólar permanece em uma ampla faixa de 97,60 a 98,65, em antecipação aos dados sobre o mercado de trabalho dos EUA. Caso os relatórios da ADP e do Departamento do Trabalho fiquem abaixo das previsões, o índice poderá cair para 97,60. A marca de 98,12 pode servir como um nível para possíveis vendas.

AUD/USD

O par continua sendo negociado lateralmente, mas pode subir e atingir 0,6560 com base no relatório ADP. O nível 0,6527 pode ser um bom ponto de entrada para compras.